
O martelo foi batido, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) está concluída para a votação, e o déficit primário proposto é zero.
Haddad venceu a queda de braço interna. Dentro do PT, havia a preocupação de que uma meta tão restrita poderia obrigar o governo a cortar investimentos em 2024. Por vários motivos, isso não é conveniente, pois nossa economia ainda patina e a arrecadação dá sinais de queda.
Nesse contexto, como Haddad convenceu seus pares, incluindo Lula, de que a meta de déficit zero é factível?
Na verdade, não os convenceu. Acredito que Haddad tenha mostrado a todos que, como estão todos envolvidos em negociações duríssimas no Congresso, inclusive com a votação da Reforma Fiscal na Câmara, além de vários projetos para fechar as brechas de perda de arrecadação, e o ano está chegando ao fim. O que Haddad destacou foi que se o governo abrir mão de enfrentar o desafio de arrecadar, praticamente obrigando o Congresso a trabalhar a toque de caixa e engolindo uma série de decisões que desagradariam aqueles acostumados a fugir de impostos, uma sinalização nesse momento de que não cumprirá a meta combinada seria o fim das esperanças de aprovar qualquer outra coisa neste ano.
Esse argumento convenceu pelo bom senso e pela realidade. Será que o Congresso fará a sua parte e aprovará as medidas para aumentar a arrecadação?
Parece que sim. A questão da meta é sensível no argumento geral dos acordos que envolvem a política e o mercado. A sua manutenção é um recado eficaz.
Qualquer revisão, se houver, ficará para o início do segundo trimestre de 2024, quando a evolução, ou não, da arrecadação e das despesas deixará um quadro mais definido para uma análise apurada.
Lembrando sempre que toda discussão é sobre o déficit primário, aquele que exclui o pagamento dos juros da dívida pública. O outro déficit, total, que inclui o pagamento dos juros, continua nas calendas, nas alturas, nos píncaros, mas ninguém liga. Isso é para os ricos e investidores, e aí não há discussão.
Por enquanto. Mas chegaremos lá.