
O Bacen anunciou um corte de 0,50% na taxa Selic, um número que, se não era inteiramente previsto, também não estava fora das especulações.
O inusitado foi o desempate de Campos Nero na votação de 5×4 do colegiado do Banco; o desempate contou com o voto do seu presidente. O voto derrotado defendia a redução de 0,25% na taxa.
Penso nos muitos motivos da decisão de Nero, e sem dúvida, a forte pressão que sofreu influenciou, talvez até seu instinto de sobrevivência.
Um dos argumentos usados para defender o corte de apenas 0,25% é que, cedendo mais, o governo e os agentes econômicos iriam pleitear futuramente maiores cortes. E é exatamente o que está acontecendo, com as apostas para os próximos encontros não se firmando nos 0,5% prometidos na decisão de ontem e nas próximas reuniões, mas em 0,75%. E eu estou entre eles.
O momento é rico em reflexões.
Primeiro, o Bacen abandonou a retórica belicista e irreal, cedendo às pressões do governo e do mercado. Isso também mostra a base ilusória em que as decisões pretensamente técnicas repousam quando os interesses estão alinhados em uma mesma direção.
Segundo, há uma equivocada impressão dos agentes e analistas no exterior, que olham para a trajetória dos juros no Brasil e louvam o fato de termos sido os primeiros a subir e, agora, os primeiros a baixar. Eles não sabem que subimos por motivos alheios aos que eles imaginam, porque os juros subiram para pouco mais de 2% para permitir a valorização do dólar, o que interessava ao Guedes e seu projeto de privatização e venda de patrimônio barato. Esse plano fracassou e provocou alta inflação, ameaçando os planos de reeleição do chefe deles todos. A solução foi abandonar o plano entreguista de privatização e segurar a inflação, subindo os juros aos píncaros. Inutilmente, como sabemos.
Agora, depois de posar de economista radical enquanto, na verdade, boicotava o projeto de desenvolvimento do novo governo, Nero cede pressionado, inclusive pelos banqueiros a quem serve, de onde vem e para onde pretende retornar.
Que seja breve.