
A esperada reunião entre Lula e Lira para negociar a entrada do centrão no ministério do governo ainda não ocorreu.
Lira está mostrando sinais de irritação, ameaçando ressuscitar a emenda da Reforma Administrativa e indicando apoio aos que desejam anular o novo decreto de armas.
Lula, por sua vez, afirma que o centrão não existe e aguarda o retorno dos congressistas das férias, declarando que negociará com os partidos.
Com o passar do tempo, Lira fica cada vez mais próximo do fim de sua presidência, cedendo o cargo em 2024. Sua margem de negociação está se estreitando, enquanto o poder de Lula cresce, impulsionado por acertos relativos na economia e seus programas de desenvolvimento e inclusão social.
A cada dia que passa, o atual governo ganha mais apoio no Congresso. Este é o jogo de poder que um Congresso sabidamente conservador sempre joga com todos os governos, como mencionado várias vezes anteriormente. A diferença é que estamos no processo de adaptação e a atual acomodação é inevitável.
Inclusive, Lira tem o direito de espernear.
Em agosto, é provável que alcancemos um acordo intermediário, pois o calendário eleitoral acelera e o próximo ano terá eleições municipais. Percebo uma forte movimentação na base governista, com vários caciques buscando fortalecer suas bases esquecidas ao se candidatarem para o executivo municipal. Mais adiante, falaremos sobre como esse movimento esvazia o Congresso de importantes lideranças e indica, em minha opinião, uma mudança estrutural no Congresso. De certa forma, os números passam a ser mais relevantes do que os nomes e as referências. O aprofundamento ideológico empobreceu tanto o debate que os indivíduos não importam mais; agora, o que vale é o voto e sua quantidade. Isso parece levar os melhores quadros a mudarem seus interesses, buscando o futuro no executivo e não mais no Legislativo.
É claro que qualquer expectativa de mudança de cenário precisa ser confirmada pelos fatos, e o pleito municipal servirá como um sinal de se os novos tempos chegaram ou não.
Por causa disso e também porque um número considerável de parlamentares disputará o poder municipal no próximo ano, a popularidade do governo serve como uma bandeira relevante de sucesso e futuro. A oposição, por outro lado, parece perdida, com seus radicais cada vez mais isolados.
Lira tenta manter o apoio dos aloprados, sinalizando a votação para anular o decreto de armas, e também busca o apoio dos conservadores ao ameaçar retomar a Reforma Administrativa. Acredito ser improvável que ambas as iniciativas prosperem, pois a intenção é apenas criar ameaças e valorizar o passe.
No mercado político, esse valor parece diminuir a cada dia. Ainda tem importância, mas menos do que tinha ontem e muito menos do que o próprio Lira imagina.