A casa-grande e a senzala.

Vamos aos fatos: temos uma previsão de saldo comercial com o mundo estimado em US$ 80 bilhões, e o ex-presidente Lula está na União Europeia negociando um acordo entre eles e o Mercosul.

O impasse com os europeus supostamente está em cláusulas ambientais, que, na verdade, encobrem intenções de garantir sanções. Parece que Lula está usando o mesmo argumento, porém com sinal trocado, ao esconder seu principal objetivo de assegurar compras governamentais para o nosso mercado e priorizar o desenvolvimento industrial do Mercosul e do Brasil.

Mesmo que obtenhamos bilhões de dólares em nosso comércio com o exterior, ao incluirmos a conta de serviços e remessas de lucros para o estrangeiro, o resultado final mostra um déficit de US$ 50 bilhões.

Nessa conta estão incluídos os fretes de navios que escoam nossa tão aclamada produção agrícola, praticamente inteiramente feito por navios estrangeiros. Para efeito de comparação, seria como se fôssemos uma grande fazenda produtora, mas sem carroças suficientes para transportar nossa produção.

É uma situação deprimente.

Para deixarmos a imagem da fazenda de lado, – que é cantada em prosa e verso e geralmente de mal gosto – seria necessário uma revolução em nossa produção de manufaturas, invertendo o fluxo de remessas de lucros e pagamento de juros para as matrizes das fábricas aqui instaladas.

Brizola não cansava de denunciar as “remessas internacionais”, escandalosas em seu tempo e ainda nos tempos atuais.

Através desse mecanismo, as grandes multinacionais remetem fortunas adquiridas nos países emergentes e pobres, exigindo pagamento do investimento e dos juros dos capitais, enquanto impedem o nascimento de produção própria. É uma velha história sempre revisada e nunca resolvida. Parece até que ninguém liga mais pra isso, as remessas estão inteiramente normalizadas no funcionamento comercial atual e ninguém fala delas.

A intenção de tantas viagens e reuniões no exterior tem esse propósito, de reinserir o Brasil nas decisões mundiais que coordenam e regulam as trocas comerciais, o envio de lucros, dividendos e pagamento de juros. Sem acordos justos, a balança nunca encontrará equilíbrio, e seremos sempre uma fazenda produzindo riqueza para o senhor da terra, que mora na cidade distante.

O clássico da nossa literatura pode parecer distante nos anos e no cenário de seu contexto. A maneira como a vida real ainda é vivida por aqui, todos inclusos, pouco ou quase nada mudou.

Ainda há muito por fazer.


Deixe um comentário