
A semana foi marcada por discussões sobre democracia, e é interessante observar que não estamos mais debatendo assuntos como mamadeira erótica, ivermectina ou a segurança das urnas eletrônicas.
Isso representa um progresso.
Sem recorrer à tradução do termo do grego, que nasce de uma sociedade escravocrata, gostaria de citar a letra da banda Titãs, que diz que as pobrezas são diferentes. O mesmo se aplica às democracias.
É curioso quando nos deparamos com o mundo dos liberais. Embora os fascistas estejam excluídos dessa questão em particular, quando os liberais expressam sua visão de mundo em termos absolutos – preto ou branco, é ou não é -, eles se aproximam mais dos radicais de direita do que imaginam.
Quando afirmam que a democracia não é relativa, questiono a qual democracia se referem, onde ela realmente existe e do que se alimenta.
Pessoalmente, acredito exatamente no oposto: nenhum país democrático se assemelha a outro, e seus sistemas são igualmente personalizados.
É impossível reduzir tamanha diversidade histórica a uma unidade existencial ou prática.
Pelo contrário, onde encontramos experiências democráticas iguais? Nem mesmo semelhantes?
O Brasil, com seus 34 partidos, se assemelha aos EUA com seus 2 partidos? Nossa oligarquia financeira/agroindustrial se assemelha à plutocracia americana?
E a Europa, com sua classe média no poder, cada vez mais pressionada e dependente de outros polos de poder, como EUA e China, com seu parlamentarismo rígido como uma rocha fraturada, mas impermeável a qualquer mudança ou renovação?
E o que dizer da Índia, Paquistão, África do Sul e todos os nossos vizinhos na América?
Encontrar semelhanças é extremamente difícil.
E quanto às ditaduras e regimes fechados?
Talvez aí esteja a chave para entender a visão liberal: esses regimes não permitem a alternância de poder.
E, para ser honesto, onde a alternância de poder ocorre de fato?
A não ser de tempos em tempos, de forma limitada? Como estamos experimentando agora no Brasil?
A democracia é diversa e depende da história de cada país e seu povo. Da mesma forma, os regimes autoritários também são relativos pelas mesmas razões.
Então, tanto faz?
Claro que não.
Cada povo escreve sua própria história, com avanços e retrocessos, com continuidade e rupturas. Algumas vezes são melhores, outras vezes são piores. Podemos fazer algumas comparações, mas a maioria delas é impossível.
Não existe um modelo para o qual todos estejam caminhando, nem um roteiro a ser seguido por cada um, nem um destino comum.
Existem utopias e sonhos, enraizados nas lutas sociais e nas aspirações por justiça e igualdade. No entanto, a realidade política é complexa e multifacetada. E o futuro é sempre incerto.
O importante é reconhecer que a democracia é um processo contínuo, em constante evolução, para nós. E cada um encontre a sua.
A nossa nos custou caro, e queremos seguir com ela.
E cada vez mais e melhor.
Relativamente falando.