
Algumas palavras sobre esse tremor da semana passada, nessa relação Parlamento e Executivo, porque ficamos na dúvida sobre a natureza dos ataques e seus desdobramentos futuros.
Não dá pra simplificar estarmos lidando com uma disputa de orçamento, é isso mas é mais que isso.
E embora pareça agudizar nos tempos atuais, essa tensão tem sido frequente na relação entre os poderes legislativo e executivo no pós 1988 com a promulgação da Constituição.
Antes não tínhamos, era uma ditadura militar.
Não vamos nos ocupar do passado, só o presente já nos oferece material suficiente de reflexão.
E onde estamos?
Disputando o poder, respondo.
Nossa eleição foi muito disputada, o ambiente da disputa está espelhado nos tribunais e CPMI , a influência das novas mídias e como elas favorecem um discurso de ódio e preconceitos, fascista, esta por ser melhor compreendido, mas já é fenômeno mundial.
Na Espanha a direita, ainda não a extrema direita, mas a direita ganhou a eleição municipal.
E por aqui podemos dizer o mesmo, que a direita ganhou a eleição das Câmaras federais e estaduais, de onde deriva todo esse problema na relação institucional.
O projeto do executivo derrotado, a essa altura, passaria por aprofundar o regime autoritário, impondo limites aos demais poderes e aprovando regras de liberalização total, atropelando todas as iniciativas civilizadas conquistadas até aqui.
Uma horda de bárbaros estaria no governo invadindo os demais poderes sem respeitar regras nem limites, esse o cenário imaginado.
Flavio Dino imagina-se em um exílio nessa hipótese.
Não aconteceu, mas o parceiro da empreitada está inteirinho na Câmara meio desorientado ainda e disputando a herança do bolsonarismo soçobrante. E para isso precisam manter aquela fama de mau.
Os terços da divisão interna da Câmara não tem limites definidos, na votação do novo Arcabouço Fiscal o PSOL votou contra e parte do PL votou a favor.
E a convivência promete ser essa daqui para a frente, melhorando ou piorando na mesma proporção do êxito ou fracasso do governo, seguindo a tendência de sua popularidade.
Me lembro quando o PT ganhou suas primeira Prefeituras, Vitória no ES, depois BH em Minas, as primeiras medidas eram para repor perdas salariais do funcionalismo municipal, defasados em 30,40 até 50%, e essas iniciativas heroicas comprometeram as administrações seriamente, no caso de BH ainda teve sobrevida, Vitória amargou um fracasso.
Então, quero dizer, que nem toda disputa política é definitiva , nenhuma decisão é totalmente acertada, ninguém tem o monopólio das soluções.
Na Câmara, em que pese o conservadorismo, tem muita sabedoria acumulada e por lá no meio de 513 deputados a coisa pega pra todo lado, vale a pena então discutir e encontrar caminhos.
O perde e ganha nem sempre é certo, nem sempre é evidente, precisa de um tempo para amadurecer.
E são apostas, algumas mais fundamentadas e corretas, outras armadilhas, outras negociatas, outras obstáculos que deliberadamente inventam.
Por isso a nossa escolha no presidente Lula, ninguém como ele domina a arte da negociação e de abertura de caminhos e sua arte ultrapassa nossas fronteiras.
Essa a minha aposta, acreditar e acompanhar essas negociações esticando um pouco o olhar, de fato o presidencialismo de coalizão não morreu, mas querem mata-lo e isso não é bom.
De jeito nenhum.