Após o bem-sucedido e vitorioso primeiro mandato, quando sua aprovação estacionava próximo de 70%, a presidenta Dilma enfrentou em seguida dificuldades para sua reeleição. Reeleita nas condições políticas e econômicas de então, seu apoio desandou, e um golpe parlamentar capitaneado por Michel Temer conseguiu vingar.
Sim, entre um mandato e outro, tivemos as passeatas da guerra híbrida, com os frustrados de sempre, os oportunistas de então, além de quem não fazia ideia do que estava acontecendo, solapando e preparando o golpe que viria em seguida.
Houve um momento nos dois primeiros mandatos do Lula em que o canto da sereia golpista rondou o vice da época, José Alencar. Muito diferente da cobra peçonhenta chamada Michel, que vivia sorrateiro no Planalto, Alencar afastou as crises fabricadas e cumpriu o mandato ao lado do Lula até o seu final, para o bem de todos.
Relembro os fatos porque, entre seu primeiro e segundo mandatos, Dilma enfrentou o dilema do conflito distributivo instalado na economia brasileira, até então conduzida sem ter sido severamente afetada pela quebra geral dos mercados ocasionada em 2008 nos EUA. No Brasil, conseguimos, com grande aporte do Estado, subsídios e desonerações, manter a economia rodando, mas a altos custos fiscais e fragilizando o orçamento até que chegou o momento de ajustar.
E aí o conflito distributivo se instala, porque quem vai pagar o ajuste?
Não tivemos nem tempo de saber a resposta de Dilma na época. Com as dúvidas instaladas e com as jornadas coloridas a mil, o Congresso, somado à vice-presidência, se encarregou de responder, empurrando o ajuste para o lombo dos de sempre: os trabalhadores, que assumissem o ônus na ponte para o futuro que não passava de uma ida para o passado velho e conhecido.
Perceba que desde então, 10 anos, o Brasil só patinou. Nos mandatos de Temer e de Bolsonaro, nem uma resma de desenvolvimento, mais emprego, mais renda, coisa nenhuma se viu.
E estamos novamente voltando aos eixos, não por acaso, nas mãos do presidente Lula.
Mas a questão da distribuição da renda permanece, porque o Brasil é o país de maior concentração de renda do mundo. Não somos um país pobre, mas um país de pobres, porque a riqueza fica toda nas mãos de poucos.
E não há saída para nós, além do crescimento econômico e do investimento, que o governo não pode realizar sozinho de maneira sustentável. Ele pode e dá o impulso, que precisa ser acompanhado pelo investimento e pela crença geral no progresso. Sem isso, o voo é aquele da galinha, como tantas vezes vimos acontecer.
Que não é o caso agora. O investimento privado começa a voltar, a batalha dos juros, apesar dos pesares, tem previsão de arrefecer a partir de janeiro e isso obriga os investidores a repensar planos, sabendo que a derrama de dinheiro da Selic tem prazo para começar a secar.
Entre uma coisa e outra, exatamente onde estamos agora, disputamos os custos da retomada dos investimentos, da valorização do salário mínimo, da concessão justa de aposentadorias que foi sabotada, do orçamento digno da saúde e da educação, entre tudo o mais que estamos vendo acontecer.
O dinheiro então precisa sair de algum lugar, e é aí onde a disputa se instala, sempre e sempre e novamente e de novo e de novo.
A reforma tributária mostrou seu lado, desonerando alimentos da cesta básica, contas de gás e luz para os mais pobres, e uma série de medidas que preservam o lado carente da população. O quadro acima mostra do que estamos tratando, porque de algum outro lugar os recursos que nunca estão sobrando precisam ser compensados.
É o que estamos disputando agora, hoje.
Durante a semana, o ministro Haddad tem sido atacado de todas as maneiras como uma pessoa que está aumentando impostos e taxando tudo e a rodo. Quando, na verdade, o nosso índice geral de cobrança de impostos caiu, para níveis inferiores ao do governo anterior.
A chiadeira, entretanto, tem seu fundo de verdade, porque o imposto caiu para a maioria pobre e subiu para a minoria rica, embora no todo tenha diminuído.
E a reforma tributária ainda nem está em vigência. Estamos nas dores do parto, e no ano que vem, aí sim, nasce a criança. Depois, teremos a disputa ainda mais acirrada do complemento da reforma, quando entra na pauta o imposto de renda.
E o conflito distributivo se reinstala, como sempre.
Um governo popular e preocupado com o desenvolvimento sustentável e igualitário de seu povo tem um lado, nunca devemos nos esquecer. Eles lá têm suas razões para gritar, e nós muito mais.
Que vença o melhor. Que sabemos quem é….
