Do filme de Glauber que assisti em uma amostra realizada num final de semana em BH, uma maratona de seus filmes mais conhecidos, guardei essa cena e uma frase do Corisco : matar os pobres para não morrerem de fome. A sombria determinação do trágico herói cangaceiro resume o ideal liberal desse mundo, aos pobres melhor será morrer de forma mais rápida e indolor.
Esse mote, transformado em planilhas, análises, pareceres e políticas públicas, projeto de governos e orçamento de financiamento bancário, nacional e internacional, de vez em quando enfrenta desafios, alguns na forma de conflitos físicos, mas outros em discursos racionais, lógicos, concisos, lineares, práticos e verossimeis.
Talvez por tantas qualidades torna-se impraticável.
Mas nem por isso deve deixar de ser dito, sempre que for possível e quando também não for.
Assim me parece essa viagem do nosso Lula nas terras da China, recebido com honras e retribuindo gentilezas e teses inovadoras que pretendem pavimentar caminhos futuros.
Por que o dólar, por que a guerra, por que a fome, a desordem, o subdesenvolvimento, a ignorância, o atraso tecnológico, as barreiras comerciais e culturais, os poucos recursos para o entendimento e tantos para as desavenças, por quê?
É verdade que durante a maior parte do tempo vemos os países cercados de perguntas e com poucas escolhas de soluções, mas às vezes nos deparamos com instantes diversos, como esse da viagem do nosso estadista, ele distribui bom senso, pacifica e chama ao diálogo, ao entendimento e a opção por um ganha ganha entre diferentes.
O que, saibamos, nunca é pouca coisa para escolher nesse cardápio entre nações.
Há quem diga que faz muito, outros que faz pouco, a maioria não entende.
Mas está evidente o despertar, renovado, experiente, sábio, para uma nova tentativa de viver mais alguns bons anos distribuindo trabalho e dignidade.
A partir da próxima semana começam a aparecer as primeiras pesquisas sobre a eleição .
Minha expectativa, contando que a onda do coiso tenha estacionado, é de 54 x 46 a favor do coiso.
Alguma coisa próxima.
A transferência mais ou menos divulgada até aqui.
O que nos conduz a uma situação de derrota anunciada mas que pode ser revertida, imaginando que a cada ponto ganho o adversário perde, crescer apenas 4% já resolve.
O que absolutamente não é impossível.
Essa primeira semana é gasta no acúmulo de forças, novas alianças, análises e muita reflexão.
Os debates, se acontecerem serão muito mais importantes do que jamais foram.
E não devemos contar com uma má performance do coiso, ele é político tarimbado e profissional, mas podemos contar com uma boa performance de Haddad.
O jogo nem passa tanto em convencer os do outro lado, mas tentar incluir os que até agora não se posicionaram.
Supomos, inicialmente, que deixar o coisa falar livremente seria o bastante para derruba-lo.
Depois, imaginamos um teto baseado em antigas projeções.
E, agora, dizemos que os debates irão desmascara-lo.
Nem precisa dizer a minha opinião, a essa altura imaginar, supor ou coisa parecida nem adianta mais.
A situação nua e crua é que a vaca que estava no brejo correu pro pântano e segue agora para o esgoto.
E essa situação é praticamente certa.
E se nada de muito significativo ou importante acontecer, repito, com ênfase no muito, o resultado já está traçado e certo.
Por óbvio existem chances de reversão, remotas, mas existem.
E a intenção dessas poucas palavras não é desanimar o já desalentado e eventual leitor.
O futuro que já é obscuro em razão das escolhas até aqui, essas definitivas, pode ainda muito piorar se somarmos ao fascismo do legislativo e do judiciário, o executivo.
Porque nem estamos tratando de prever dificuldades de um governo progressista, é o exato contrário: cavar uma trincheira no executivo para ao menos esse lutar em condições mínimas contra a ação destrutiva dos demais poderes.
Se o executivo nas mãos do coiso for se somar a essa sopa do mal e intragavel, morreremos todos à míngua.
O caldo já entornou, importa mínimizar a fome, eventuais queimaduras e providênciar socorro imediato e urgente.
Todos fazem as suas previsões, normalmente ancoradas nas informações disponíveis, no caso de uma eleição o fundamento são os números das pesquisas.
A democracia afunila nesse ponto, importa somar e nem sempre importa como.
Nem porque ou para quê.
O que já é outro assunto.
Chegamos ao resumo numérico do que é e está evidente, um país exausto e inculto, mal informado e individualista que tateia no escuro procurando uma saída, e quem poderia ajudar a encontrar são os que mais a escondem.
É essa sina malthusiana mal resolvida, resumida no pouco pirão o meu primeiro, que um país solidário mas carente de meios de sobrevivência distribui muito mais incertezas e desafios do que qualquer outra coisa.
Há de reconhecer que o apelo à ordem, a força, na marra, faz sentido nessa confusão e caos, não fossem também essas, consequências desse tipo de opção.
Não existe solução mágica, nem de força, nem voluntarismis, nem nada que resolva todos os problemas, existe uma construção coletiva e uma individual.
E uma depende da outra.
Às vezes uma mais que a outra, como estamos prestes a experimentar no dia de hoje e nos próximos dias.
E essa necessidade do momento exige um esforço coletivo, inclusivo, generoso, tolerante, cuidadoso e pacificador.
É uma batalha de armas poderosas, violentas, que exigem coragem e determinação na dose e necessidades exatas.
Mas é uma batalha diferente.
Lutamos para incluir, o máximo de gente possível, no celeiro de oportunidades e justiça, contra aqueles que propõem soluções simplistas e excludentes.
Uma luta difícil, porque devemos incluir inclusive aqueles que querem nos excluir.
Verdade que devemos colocá-los em seus devidos lugares, o mais longe possível das instâncias de poder.
Para isso caminhamos hoje, o mais solidário e próximos possível, para construir as pontes do futuro.
Pontes em que todos passam passar, apesar dos pesares.
Amanhã corremos todos para as urnas, verdade que muitos a contragosto, mas creio que a maioria com gosto.
Primeiro turno é o voto do coração, ninguém deveria pensar diferente, mesmo em situações adversas.
A obrigação de coligar e convencer é do partido e seu candidato, se não conseguem nem uma coisa nem outra, porque culpar o eleitor por resultado?
Então é votar, sem medo de ser feliz….
E, depois lembrar que no segundo turno o voto é o da razão, no nosso caso contra o dragão da maldade, fascista e incompetente.
Um desastre ferroviário.
Votar sem deixar de lembrar o exemplo italiano, igualmente varrido pela operação mãos limpas que elegeu em seguida o tresloucado Berlusconi, uma espécie de Trump inicial.
Deus nos livre e guarde.
Juntemo-nos aos santos guerreiros para destruir o dragão da maldade.
Viva Glauber Rocha, viva o Brasil, viva o povo brasileiro!
A eleição de 1989 que levou Collor ao poder está muito parecida com essa.
Com um agravante.
O que em 1989 era deslavada manipulação, dessa vez é mentira deslavada.
Também na época apresentaram Lula e o PT como radicais extremistas, situando Collor como um centrista liberal. Dessa vez impossibilitados de situar o coiso no centro, a solução foi repetir a manobra anterior e empurrar Haddad para o extremo oposto.
Verdade que tanto antes como agora o candidato do sistema não era Collor e tampouco o coiso, mas a história mostra que isso não faz a menor diferença e o que importa é impor a derrota ao PT ou, no mínimo, vender tão caro a vitória no limite da desestabilização.
Essa a consequências dessas ações.
Que somadas ao golpismo partidário e covarde do STF, vão deixando em frangalhos as instituições nacionais e levando o país a extremos perigosos.
O coiso não é Collor, o Brasil não é o mesmo de 1989 e toda essa tentativa desesperada de manter numa eleição o poder que conquistaram a força, não vai prosperar.
Agora é guerra, tape os ouvidos, não acredite em nada que falem ou digam até domingo próximo.