Matar pra não morrer de fome.

Glauber Rocha

Do filme de Glauber que assisti em uma amostra realizada num final de semana em BH, uma maratona de seus filmes mais conhecidos, guardei essa cena e uma frase do Corisco : matar os pobres para não morrerem de fome. A sombria determinação do trágico herói cangaceiro resume o ideal liberal desse mundo, aos pobres melhor será morrer de forma mais rápida e indolor.

Esse mote, transformado em planilhas, análises, pareceres e políticas públicas, projeto de governos e orçamento de financiamento bancário, nacional e internacional, de vez em quando enfrenta desafios, alguns na forma de conflitos físicos, mas outros em discursos racionais, lógicos, concisos, lineares, práticos e verossimeis.

Talvez por tantas qualidades torna-se impraticável.

Mas nem por isso deve deixar de ser dito, sempre que for possível e quando também não for.

Assim me parece essa viagem do nosso Lula nas terras da China, recebido com honras e retribuindo gentilezas e teses inovadoras que pretendem pavimentar caminhos futuros.

Por que o dólar, por que a guerra, por que a fome, a desordem, o subdesenvolvimento, a ignorância, o atraso tecnológico, as barreiras comerciais e culturais, os poucos recursos para o entendimento e tantos para as desavenças, por quê?

É verdade que durante a maior parte do tempo vemos os países cercados de perguntas e com poucas escolhas de soluções, mas às vezes nos deparamos com instantes diversos, como esse da viagem do nosso estadista, ele distribui bom senso, pacifica e chama ao diálogo, ao entendimento e a opção por um ganha ganha entre diferentes.

O que, saibamos, nunca é pouca coisa para escolher nesse cardápio entre nações.

Há quem diga que faz muito, outros que faz pouco, a maioria não entende.

Mas está evidente o despertar, renovado, experiente, sábio, para uma nova tentativa de viver mais alguns bons anos distribuindo trabalho e dignidade.

Ao Corisco resta aguardar.


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