Meu amigo inglês falava um português perfeito, professor de história em Cambridge e vindo de uma cultura oral, tinha enorme facilidade de aprender línguas.
Embora nascido em Londres, era de família russa de onde dizia herdar esse dom de facilmente aprender o português, ou uma outra qualquer,eventualmente, ele dizia que os ingleses mesmos , da ilha, eram incapazes de aprender bem uma língua estrangeira. Não posso dizer até onde isso seria uma verdade, enfim, o fato era que ele falava e entendia a nossa língua.
Isso, entretanto, até ele me conhecer e passar a participar de conversas entre mineiros, que em silêncios e frases soltas, aparentemente perdidas no nada, desconexadas, em frases sutis, alguns olhares e expressões fisionômicas e do corpo, resolvíamos nossas questões.
Quando em dado momento eu sentenciava definitivo que o assunto estava resolvido e poderíamos encerrar a discussão, meu amigo se desesperava, com as mãos na cabeça me olhava atônico e perguntava o que havia sido resolvido porque ele não ouviu nenhuma conversa e era impossível que alguma coisa foi dita ou entendida naquela hora.
Muito menos resolvida.
Eu e todos sorriamos complacentes e eu prometia a ele que depois eu explicava.
Acho que ele espera até hoje por essas explicações.
Mais uma dessas diferenças culturais que me aconteceu foi quando eu estava em Lisboa e precisava encontrar uma direção para pegar taxi ou metrô para ir ao aeroporto, quando vi um guarda uniformizado na rua não tive dúvidas e perguntei : – eu gostaria de ir para o aeroporto?!
O guarda espantado deu de ombros e respondeu : – pois vá!
