Uma idéia pode mudar tudo.
O funcionamento peculiar da sociedade brasileira consagrou a imagem de cordialidade, que quer dizer movido por cordas, coração, emoção.
Sem entrar na questão sociológica, distante das minhas possibilidades, essa imagem de condescendência e tolerância da cultura brasileira em algumas situações e a sua fúria e autoritarismo em outras, o domínio das paixões explica bem.
Mas, essas seriam consequências comportamentais de alguma outra coisa que viria antes, modulando a resposta cultural que a sociologia identifica.
O livro A elite do Atraso, de Jessé de Souza mudou a minha visão totalmente sobre os fundamentos de nossas disparidades sociais.
Elas são consequências da matriz escravocrata das nossos relações e efeito desejado pelo desprezo e ódio ao pobre.
O mesmo ódio que precisava existir para desumanizar e subjugar o escravo, tornado coisa e ferramenta de trabalho, entre outras formas de violências.
Dai, infelizmente é preciso dizer, as feridas ainda abertas da herança das atrocidades que fez da ralé – expressão tristíssima, chocante, mas verdadeira – gado manso para ser tangido pelos donos.
Não minimizar esse feito, produto dos séculos de violências e atrocidades, perpetuadas a ponto de mecanicamente reproduzidas, porque aceitas, nas repressões e assassinatos dos pretos do Brasil.
Para mais, leiam esse magnífico livro, conheçam a obra de Jessé de Souza, transformado nesse trágico momento do nosso país como oráculo a denunciar a verdade.
Escutem o que ele diz.
